domingo, 26 de janeiro de 2014



A GRANDE BELEZA
        

Assisti a esse filme fascinante e vou assisti-lo novamente, porque ele é rico de imagens e filosofia. Considero “A Grande Beleza” releitura atualizada de “A Doce Vida” de Federico Fellini. Não estou, com isso, menosprezando a “Grande Beleza”. É um filme deslumbrante e onírico. Fala sobre o difícil aprendizado de um homem maduro, que teve grandes vantagens materiais após publicar um único livro.

Seu personagem, Jep, é todos nós, que passamos pela vida, bem ou mal, mas  passamos.

O filme traz, também outro personagem, também fantástico, que transpira vida pulsante, com todas suas alegrias e tragédias. É a bela cidade de Roma, vista por ângulos espetaculares.

Transcrevo a crítica  de Wagner Brotto, de “Adoro Cinema” sobre a película:



"Viajar é “útil, exercita a imaginação. [...] Aliás, à primeira vista todos podem fazer o mesmo. Basta fechar os olhos. É do outro lado da vida." É assim, citando um pequeno trecho de "Viagem ao Fim da Noite", do escritor maldito Louis-Ferdinand Céline, que A Grande Beleza começa, entregando ao espectador um passaporte especial para um cinema provocante, divertido e de grande impacto visual. Tanto, que as linhas a seguir serão poucas, mas (tomara) suficientes para dar um norte ao leitor.


Logo nos primeiros minutos, com um canto gregoriano ao fundo, o espectador passeia com a câmera (e olhos) pela beleza de um lugar, e se "integra" um grupo de turistas. Você está em Roma e, curiosamente, um turista desgarrado, desmaia, depois de fazer um registro fotográfico da bela paisagem. Metáfora para um deslumbre? Sem perder tempo, a música religiosa dá lugar para a batida eletrônica de uma balada. Celebridades (instantâneas ou não) e interesseiros fazem parte da fauna presente na festa estranha com gente esquisita, proporcionada por Jep (um ótimo Toni Servillo), escritor refém de um único sucesso e, agora, vivendo de fazer entrevistas fúteis para sua editora anã. Estranho? Esse é apenas um aperitivo do que está por vir nessa produção, que flerta sem vergonha - e com atualidade - pelo universo de Federico Fellini, não só confrontando realidade e fantasia, mas inserindo as bizarrices tão familiares ao cineasta de A Doce Vida, entre outros títulos igualmente cultuados.



O protagonista é rico, bem sucedido, não é feliz com sua escolha e, incrível, a descoberta de que não deve perder tempo fazendo coisas que não quer, veio somente aos 65 anos. É quando sua frieza inicial vai sumindo, potencializando a capacidade de envolver você naquela história, a partir das constantes observações e intervenções, que ele faz nas pessoas que o rodeiam. A visão de dois jovens apaixonados e a lembrança de uma antiga paixão, por exemplo, acendem o estopim para uma série de momentos de reflexão (e provocação), que o roteiro vai destilando. Escrito e dirigido pelo cineasta Paolo Sorrentino, o sarcasmo é constante e não sobra pedra sobre pedra. Da religião à literatura, passando pelas artes, a afirmativa é de que a beleza não é tudo e a verdade sucumbe a ilusão. A sociedade (não só a italiana) é massacrada por críticas ácidas, detonando o culto ao belo, explorando os estereótipos e desafiando a intelectualidade, ao mostrar uma pintura, fruto da ira infantil, ser condiderada obra de arte. No filme cheio de imagens pra lá de interessantes, os diálogos também são muitos, intensos e deliciosos. E a própria cidade homenageada não é perdoada, quando alguém diz que o melhor de Roma são os turistas, enquanto outro complementa que a Itália "existe" para o mundo por causa da moda e da pizza.




Citando Dostoiévski, Breton e Flaubert, entre outros autores, o conflito de ser ou "continuar sendo" percorre toda a obra até o último segundo, rendendo muitas curiosidades. Entre elas, carreiras de cocaína no céu ou um mar no teto de um quarto, se revezam com o naufrágio do Concordia, Fanny Ardant solitária na noite ou ainda o agressivo merchandising de Martini. Seria esse último um paralelo (crítico, bem humorado e remunerado) com o mesmo Fellini, que fez publicidade de Campari no passado? Premiado e com várias indicações, entre elas uma eventual participação no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, se A Grande Beleza tem um defeito, ser menor o tornaria ainda melhor. Mas em uma obra que vai fundo na desilusão, seria ilusão alguém imaginar que isso o torna "menor" na qualidade. É filme com conteúdo contundente no verbo e na imagem (do premiado Luca Bigazzi), brindando o pessoal da poltrona com um cinema raro, mas ao mesmo tempo fácil de entender, bem longe das propostas cabeçudas demais, que insistem em não dialogar com o público. Imperdível.



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